na História

Nos anos sessenta e setenta, maculados pela ditadura militar, numerosos artistas gráficos – ilustradores, chargistas, cartunistas, quadrinhistas – se engajaram na luta popular contra o governo ilegalmente imposto. Imprimiam, assim, a seu trabalho, um sentido maior. Muitos profissionais das artes gráficas iniciaram nessa época a sua formação, correndo, às vezes, o risco de ser perseguidos e presos. 
Na grande imprensa, a Folha de S.Paulo, no suplemento dominical Folhetim, foi por certo tempo relativamente receptiva a essas contribuições ditas engajadas. Elas eram quase exclusivas das publicações alternativas: jornais sindicais, de movimentos populares, serigrafias em camisetas, cartazes, panfletos…

Pelo tempo de vida, e qualidade dos textos e ilustrações, marcaram presença o jornal Versus, editado por Marcos Faerman, o jornal Movimento, editado por Raimundo Pereira, e o Pasquim, o mais importante e popular, criado e mantido por um grupo de intelectuais e artistas cariocas. Marlene Crespo colaborou com Versus, com o Folhetim, da Folha, e, assiduamente, com o semanário Movimento. Além de muitas outras publicações partidárias e populares. 

Com a abertura política, diminuiu a necessidade de reforçar a comunicação política (driblando, inclusive, a censura) por meio da imagem. Muitos dos artistas engajados continuaram na mídia, alguns migraram para outras áreas. Marlene retornou às exposições individuais e coletivas, e deu continuidade à ilustração de livros. Mas o trabalho artístico-político deixou marca indelével em suas fases posteriores, favorecendo a ligação ao concreto e às raízes populares. 

Os desenhos de inspiração política, importantes em número e qualidade, formam um conjunto de valor ao mesmo tempo intrínseco e histórico.

Entre 2006 e 2010, a artista realizou uma atividade que lembra, de certo modo, a rica experiência vivida nos anos da ditadura. Foram as exposições itinerantes nas estações de trem e de metrô. Elas provocam uma reflexão sobre como oferecer o trabalho artístico à fruição do grande público, não aficionado a museus e galerias.